Há uns meses, ainda vivendo em Milão, caminhava pela Via Brera, manhã cedo, em direção ao escritório. De repente, de um dos magníficos prédios de escritórios, saiu um homem, vestido de azul, elegante, bronzeado, cabelo grisalho. Enfrentou-me no passeio estreito, e não tirava os olhos da minha cara. Percebi. Eram os meus óculos novos. "Phillipe", disse eu. "Lo sapevo -- Eu sabia", disse ele. E, educadamente, encolhemo-nos no passeio, para que ambos fossemos à vida. Era o Giorgio.
http://www.starck.com/fr/design/
http://news.armani.com/en/giorgioarmani/experience/news/digital-digest-armani-hotel-milan/
são os sítios que conhecemos o suficiente para acharmos que queremos passar o tempo a falar deles: onde escondemos os berlindes da infância, as borbulhas da adolescência, ou nos sentimos bem sozinhos ou com alguém que amamos; os sítios que, unidos por uma linha, traçam o mapa da nossa alma: o ôco de uma oliveira velha, uma pedra onde nos sentamos a pensar o mar, uma banco de jardim com os pés na relva, um comboio entre cidades, uma troca de olhares sobre uma mesa.
Monday, December 5, 2011
Saturday, December 3, 2011
Excelsior
Entreguei o meu cartão de crédito para pagar o almoço, e pedi que verificassem o preço do vinho. A menina abriu um grande sorriso sob uns olhos de compaixão: “É um amarone riserva, sabe...” Eu sabia: “Sim, mas bebi só um cálice, não a garrafa toda”, protestei. Ela, com o mesmo sorriso, e agora um olhar divertido: “Sabe, os vinhos são a minha especialidade, por isso sei bem... nós vamos buscar o vinho à adega, servimos as doses que dá para servir, e dividimos o preço da garrafa pelo número de copos...” Pronto. Caso encerrado com esta explicação científica. “Afortunada!”, disse-lhe. E os olhos dela também sorriram.
Não me importo de fazer o sacrifício de beber um cálice de vinho por doze euros, de vez em quando. É o custo da espionagem. Há vinte anos que me divirto a desenhar destinos comerciais e de lazer com sucesso. Estive envolvido no conceito e no projeto de alguns dos sítios que muitos de vós conhecerão, sob nomes mais ou menos sugestivos que acabam em “ping”: norteshopping, loureshopping, algarveshopping, madeirashopping, etc.; outros com nomes de pessoas ou de coisas estranhas: vasco da gama, viacatarina, rio sul; e outros de nomes mais estranhos em paragens mais distantes que poucos de vós conhecerão: parque dom pedro, alexa, mediterranean cosmos, etc.
Todos são destinos de sucesso, bons conceitos de negócio, e uma referência internacional na industria dos centros comerciais, com vários prémios ganhos.
É importante ver o que se faz pelo mundo fora, para conseguir manter os queridos consumidores interessados -- daí a espionagem.
Desta vez, fui ver um sítio notável, em Milão (como se já não houvesse sítios notáveis suficientes em Milão). Chama-se Excelsior. Fica pertinho da catedral, o Duomo, e das conhecidas galerias Vittorio Emanuelle, e do também conhecido department store La Rinascente. O Excelsior é novo, e um regalo para os olhos dos devoradores de marcas -- e não só.
Aqui fica o segredo, a revelar assim que puderem.
Thursday, December 1, 2011
Eclair au chocolat
Era o que me apetecia para o pequeno almoço, hoje. Há belos lugares secretos e há ainda mais belos lugares secretos junto ao mar. Patrick Mesiano já foi considerado Meilleur Pâtissier de France. Em Beaulieu-sur-mer. Que haverá mais belo do que um lugar secreto com o nome de mais belo lugar sobre o mar, e com o melhor eclair au chocolat do mundo? http://patrickmesiano.com
Tanto faz.
Todos temos lugares secretos, em nós, que não conhecemos. Passamos a vida a fazer o que nos dizem, ou aquilo em que acreditamos -- tanto faz -- mas, por vezes, somos surpreendidos pelo eco daquilo que dissemos ou fizemos.
Dizem-nos que fizemos isto e dissemos aquilo; que as nossas ações avançaram pelo mundo dos outros como atos de bondade ou de terror -- tanto faz -- quando o que queríamos era ser nós próprios ou aquilo que nos disseram para sermos -- tanto faz.
De que lugar secreto se libertam essas palavras ou gestos que são tão mal entendidos?
Se querem saber -- tanto faz. Mesmo!
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